Ana

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Encontros e Despedidas

Encontros e Despedidas

Nas artes, como nos ciclos da vida, muitos fatos se repetem; só diferenciam no modo como se expressam.Um dos mais recorrentes é o mito do eterno retorno. Atualiza a ancestral parábola do Filho Pródigo e confirma o desígnio de que voltar é a alegria de quem tentou, a despeito da angústia dos que ficaram. Como nascer e morrer, escrevemos com a caligrafia do tempo o incessante ir e vir, companhia e solidão.Algumas canções e poesias cantam e declamam lindamente esse tema.Na melodia de Tom Jobim, Vinícius roga a seu desalento que interceda na separação: “Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode ser.Diz-lhe numa prece que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer” (Chega de Saudade) Noutra canção desesperada o poeta implora: “Volta, vem viver outra vez ao meu lado, não consigo dormir sem teu braço, pois meu corpo está acostumado” (Volta). “Eu sei que vou chorar a cada ausência sua eu vou chorar,mas cada volta sua há de apagar o que essa ausência tua me causou.Em cada despedida eu vou te amar desesperadamente eu sei que vou te amar” (Vinícius).”Mais uma vez você vai, leva um pedaço de mim, mais uma vez vou ficar te esperando aqui” (Zezé de Camargo).
Quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor, por isso não quero lembrar quando partiu meu grande amor...
E uma alma feminina irrompe em aflição e ternura: “Vou voltar haja o que houver vou voltar...vou chegar a qualquer hora ao meu lugar, e se outra pretendia te roubar, dispensa essa vadia, eu vou voltar” (Palavra de Mulher),Chico Buarque.Em cada canto, a quimera de um retorno. Em “Encontros e Despedidas”,Milton e Fernando Brant meditam que “Chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também da despedida. E a plataforma dessa estação é a vida deste meu lugar...é a vida”. Ir e vir....chegar e partir...chorar e sorrir. Melhor fosse que ninguém partira e precisasse retornar. E se consumaria a exortação emotiva de Chico:Fica, meu amor, quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar!”Mas, qual o quê, o ir-se é a definitiva lei da vida; voltar, um intento preso a essa lei, por retalhos de ilusões e sonhadas maravilhas.
Beijo
Ana

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